sexta-feira, 22 de abril de 2011

MEDITAÇÃO PARA A SEMANA DA PÁSCOA



A Semana Santa oferece uma bela e terapêutica imagem para o nosso desenvolvimento, sobre a qual podemos refletir e na qual encontramos relações com a própria vida.
Os acontecimentos da Semana Santa compõem uma via sacra através da qual trilhamos verdades existenciais.
Do ponto de vista da sabedoria antiga, a Semana como unidade de tempo tem relação com a tradição religiosa no Gênesis e nela temos a descrição da criação do mundo em sete dias. Os dias da semana recebem seus nomes dos sete planetas, arquétipos, princípios que ordenam a vida no universo, sendo que das esferas dos Sete Planetas emanam forças espirituais que impulsionam o desenvolvimento humano. A cosmovisão antiga descreve o universo através de imagens, numa linguagem analógica que, por ser poética, toca mais profundamente a nossa alma. Ela nos proporciona a vivência de estarmos integrados a uma ordem cósmica que não contradiz a visão racional que temos do universo, mas contribui, vivificando o pensar lógico.
A Semana Santa começa no Domingo de Ramos e vai até o Sábado de Aleluia, sendo que o Domingo da Ressurreição, denominado de Domingo de Páscoa (do hebraico Pessach-passagem) é o primeiro dia da passagem para o Novo Sol que será a Terra vivificada pelo Eu do Cristo.  
   
DOMINGO DE RAMOS – Dia do Antigo Sol
No primeiro dia da Semana Santa, Jesus Cristo entra na cidade de Jerusalém, montado em um burrinho branco. Com brados de “Hosana”, o povo o saúda com ramos de palmeiras.
A força luminosa que emana do Cristo reascende no povo a antiga clarividência, vivenciada nos rituais das festividades em homenagem ao sol. A palmeira sempre fora considerada o símbolo do sol natural.
O Cristo atravessa em silêncio a vibração popular sem se contagiar. Interiormente sabe que aquele entusiasmo, logo passará. Não tem consistência interna. É o entusiasmo natural que logo se transfere para outra novidade, para outro acontecimento externo. Cristo sabe o que ele próprio representa e a que veio. Ele quer penetrar na camada mais consciente da alma humana. O seu brilho é o brilho próprio que emana da essência de seu ser espiritual.
O seu estado de alma é autoconsciente e acolhedor. Permanecerá. Entrar em Jerusalém, montado no burrinho tinha para o Cristo o sentido de deixar clara a transição: da antiga exaltação visionária, semi-consciente, desencadeada por elementos externos, para a atitude equilibrada, fruto da presença de espírito, do Sol interior na alma individualizada.

SEGUNDA-FEIRA SANTA – DIA DA LUA
Qualidades: manter, revitalizar, refletir
Betfagé era uma aldeia cercada pôr figueiras consideradas sagradas por seus moradores. Fora de lá que Cristo, no Domingo de Ramos, mandara Pedro e João trazer um burrinho, também considerado um animal sagrado. Ali, cultivava-se uma antiga forma de clarividência, ou seja, praticava-se “o sentar-se sob a figueira”, uma série de exercícios físicos e meditativos através dos quais se atingia um estado onírico de religação com o mundo espiritual.
Na manhã de Segunda-feira, ao retornar de Betânia à Jerusalém, com seus discípulos, Cristo aproxima-se da figueira e pronuncia a sentença: “Para todo o sempre, ninguém mais comerá destes figos”. Isso significaria que, no dia seguinte, a árvore estaria seca.
Com a condenação da figueira, Cristo cessa o antigo dom lunar da consciência visionária, a antiga forma de clarividência na qual predominavam os processos vitais.    
Cristo veio para que o ser humano trilhasse o caminho da autoconsciência que o conduzirá à liberdade.
“A capacidade da autoconsciência teria que ser conquistada e isso exigia em troca a antiga clarividência”. Retornará o tempo no futuro, em que todos os homens serão clarividentes por terem cultivado o “eu sou”, ou seja, a “autoconsciência”.
Chegando mais tarde ao Templo que fervilhava de atividades comerciais, Cristo expulsa os vendedores. Devolve ao Templo sua condição de lugar sagrado e aos peregrinos, que chegavam de todos os lados para as cerimônias de Páscoa, devolve a consciência de que aquela era a casa de Deus. 

TERÇA-FEIRA SANTA – DIA DE MARTE
Qualidades de luta, de autenticidade e coragem
O Cristo volta a Jerusalém trazendo as oferendas para o ritual que antecede a festa pascal. No Templo, enquanto o povo o ouvia, seus adversários o abordam com questões que são verdadeiras armadilhas, para fazê-lo cair em contradição.
Cristo responde a cada uma das questões com parábolas que caem como verdadeiros golpes de espada sobre os sacerdotes e escribas, que nelas se reconhecem como protagonistas.
A cada parábola, Cristo reafirma a natureza espiritual do seu Eu, assumindo seu lugar próprio e colocando os adversários no devido lugar.  Sua força se intensifica.
Sem temor, pergunta por pergunta, a identidade espiritual do Cristo vai se revelando.
Ele mostra aos oponentes quem realmente é, e a que veio. É uma luta intensa, travada em palavras e em intenções. De um lado, a intenção dos inquisidores que por desconfiarem dele, queriam desmascará-lo. Do lado de Cristo, a intenção poderosa do seu Eu manifestando-se em toda a sua inteireza e culminando com as palavras: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”
No final do dia, reunido com os apóstolos no Monte das Oliveiras, Cristo lhes transmite as metas que prepararão a humanidade para a sua volta, no futuro. Neste dia Cristo mostra que a maior das lutas é a batalha travada no interior, entre o medo e a vontade de colocar o nosso Eu no mundo. Nesta luta interna, nos apropriamos dos dons de Marte: a autenticidade e a coragem de enfrentar as adversidades.

QUARTA-FEIRA SANTA – DIA DE MERCÚRIO
Qualidades: Fluidez, devoção e cura
Ao entardecer daquele dia em Betânia, Jesus se reuniu com seu círculo mais íntimo à mesa de refeição, na casa de Simão.
Aproxima-se do Cristo, Maria Madalena e ungindo seus pés com um óleo precioso os enxuga com seus próprios cabelos. O gesto de Madalena provoca uma reação de crítica nos presentes e desencadeia a revolta que se acumulava na alma inquieta de Judas.
Argumentado, Judas conta o desperdício em detrimento dos pobres e sai para se encontrar com os sacerdotes e concretizar a traição que o levará ao suicídio.
É a segunda vez que Madalena unge os pés do Cristo. Na primeira unção, Ele dissera aos presentes: “Calem-se. Ela muito amou e muito lhe será perdoado”.  A postura do Cristo é de receptividade.
Em relação a Judas, Cristo compreende que este não possui em sua alma forças de coesão para ordenar suas impressões e esta agitação flui para o mundo como uma revolta.
Maria Madalena, entretanto, interiorizara as forças de amor que antes a arrastavam para o mundano. Essas forças fluem para o mundo como devoção. Ambos são tipos mercuriais, sempre em contínua atividade externa, sempre mobilizando tudo ao seu redor.
Marta, a irmã de Maria Madalena, é a terceira pessoa com qualidades mercuriais, também presente à ceia. Está sempre fazendo algo pelos outros, sempre na lida da casa. “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada.” Lucas 10.41
Na Quarta Feira Santa, Cristo acolhe as forças mercuriais transformadas em paz interiores e devoção e assim metamorfoseadas em capacidade de cura. 
  
QUINTA-FEIRA SANTA – DIA DE JUPITER
Qualidades de sabedoria, grandeza e harmonia
Cai a noite de Pessach. Lá fora reina o silêncio; todos estão reunidos em casa para a ceia do cordeiro pascal.
No convento da Ordem dos Esseus, no Monte Sion, lugar antigo e sagrado reúne-se Cristo e os Doze Apóstolos, para também celebrarem a festividade.
Antes da ceia, Cristo realiza o ato de amor humilde, singelo e cheio de sabedoria que para sempre irá tocar o coração dos cristãos: o Lava-pés.
Cristo, em toda a sua grandeza espiritual, ajoelha-se e lava os pés de cada um dos seus discípulos, em um gesto que é a síntese de todos os seus ensinamentos: “amai-vos uns aos outros”.
Segue-se a ceia do cordeiro, após a qual Cristo abre mão de si por algo que reconhece maior. Tomando o pão e o vinho, Cristo os oferece aos discípulos: “Tomai, pois este é o meu corpo e este é o meu sangue”.
Doa-se nos frutos da terra, permeados com a força da sua sabedoria transformadora, para que se renovasse continuamente o que havia se desgastado da Terra e do Homem.
O antigo sacrifício do cordeiro era um ato externo: o sangue fresco dos animais puros tinha no passado a força de induzir a alma humana a se reconectar com o mundo espiritual em estado de êxtase.
Com esse ato sacramental, Cristo intensifica o esforço volitivo da alma que quer acolher em si o Eu espiritual. Cristo se torna ele próprio, o Cordeiro e traz a interiorização até o nível do sacrifício, da entrega, da aceitação do destino. “Eis o Cordeiro de Deus que assume os pecados do mundo”
O conteúdo dessa noite compõe um sacramento que revivifica no homem religioso, a cada ato, a comunhão com o espiritual no íntimo do ser. 
  
SEXTA-FEIRA SANTA – DIA DE VÊNUS
A qualidade do amor universal
Na madrugada de Quinta para Sexta-feira, Cristo, ao ser identificado pelo beijo traiçoeiro de Judas enquanto orava no Getsemane, é arrastado e preso.
Ironizado, flagelado, coroado com espinhos, carrega sua cruz sobre as costas e é crucificado na colina do Golgota. Tendo se tornado suficientemente firme na sua alma, por possuir algo imensamente sagrado, suporta todos os sofrimentos e dores que lhe são impostos.
Com a força de sua alma elevada, carrega seu próprio corpo em direção à morte; une-se à morte e lega aos seres humanos a mensagem de que a morte não extingue a vida.
A imagem do Cristo carregando a sua própria cruz em direção à morte é o sinal de que além do umbral da morte física, começa uma nova vida.
Um dos documentos mais sagrados da história da humanidade, o Livro dos Mortos, o livro de orações do antigo Egito continha preces e instruções para, após a morte, o homem encontrar o seu caminho de volta para o mundo espiritual. Há cinco mil anos, nos rituais de iniciação, os discípulos eram induzidos em um sono. A morte era considerada irmã do sono.

A imortalidade, a visão de um mundo espiritual após a morte era ainda vivenciada. Os sepulcros eram, ao mesmo tempo, altares e as almas dos mortos eram mediadoras entre a Terra e o mundo espiritual. Na medida em que a Terra se tornou mais densa em sua matéria física e o homem desenvolveu a autoconsciência, a morte tornou-se o grande medo da humanidade.
Na Sexta-feira Santa, Cristo resgata para o ser humano a sua herança espiritual. “No Cristo torna-se vida, a morte”.

SÁBADO DE ALELUIA – DIA DE SATURNO
Qualidades: Profundidade, Consciência e resistência
O Cristo desce ao reino dos mortos, pleno da luz solar de sua consciência.
A Terra recebe o corpo e o sangue do Cristo. No local, entre o Golgota e o Sepulcro, existira outrora uma fenda primária na superfície terrestre.
Esse abismo que fora aterrado por Salomão era considerado pelos antigos como a porta para o inferno. Os terremotos da Sexta-feira reabrem esta fenda e a terra inteira se torna o túmulo do Cristo.
O espírito de Cristo penetra na Terra criando nela um centro luminoso.
“Temos em volta da Terra uma espécie de reflexo da luz do Cristo. O que é refletido como luz do Cristo, é o que Cristo denomina Espírito Santo. Ao mesmo tempo em que a Terra inicia sua evolução para se tornar um Sol, também é verdade que, a partir do evento de Gólgota, a Terra começa a criar em sua volta um anel espiritual que mais tarde se tornará uma espécie de planeta. Estamos diante do ponto de partida de um novo Sol em formação.”

DOMINGO DE PÁSCOA – DIA DO SOL
Ente nascido do cosmos
Oh, vulto luminoso!
Fortalecido pelo Sol no poder da Lua.
Tu és doado pelo ressoar criador de Marte
E a vibração de Mercúrio que move os membros.
Ilumina-te a sabedoria radiante de Júpiter
E a beleza de Vênus, portadora do amor.
E a interioridade espiritual de Saturno antiga dos mundos
Consagre-te à existência espacial
E ao desenvolvimento temporal.                                       
                                                          
                                                       Rudolf Steiner

(Texto: Edna Andrade)
Fontes:
Todas as frase entre aspas foram tiradas do livro o Evangelho de João de Rudolf Steiner
O Evangelho de João – Rudolf Steiner – Editora Antroposófica
Os acontecimentos da Semana Santa – Emil Bock – Editora Nova Jornal)